“(...)A verdade
é que cada um de nós traz vazios, por preencher, carências e interrogações
submersas, desejos calcados que procura compensar da forma mais imediata. Não é
propriamente de coisas que precisamos, mas, à falta de melhor, condescendemos.
À falta desse amor que nem sempre conseguimos, desse caminho mais aberto e
solitário que evitamos percorrer, à falta dessa reconcialiação connosco mesmo e
com os outros que continuamente adiamos... O consumo desenfreado não é outra
coisa que uma bolsa de compensações. As coisas que se adquirem são, obviamente,
mais do que coisas: são promessas que nos acenam, são protestos impotentes por
uma existência que não nos satisfaz, são ficções do nosso teatro interno. Os
centros comerciais apresentam-se como pequenos paraísos, indolores e
instantâneos. Infelizmente, de curtíssima duração também.
Li há dias, e
impressionou-me muito, que, quando Ghandi morreu, os bens materiais que deixou
valiam menos de dois dólares (...) . Os bens espirituais e civis que legou ao
futuro tinham, porém, uma dimensão incalculável.(...)”
in Revista
Expresso, 4 de Janeiro de 2014, p10.
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